Entre as religiões de tradição oral no Brasil, isto é, aquelas religiões que não reconhecem nenhum escrito como sagrado, estão as religiões afro-brasileiras. Estas religiões, também chamadas por vezes de religiões de matriz afro, são aquelas formadas pelos povos trazidos ao Brasil como escravos. Estes trouxeram não apenas sua força de trabalho, mas também suas culturas, suas culinárias, suas músicas, suas línguas, enfim seus costumes e suas religiões. Devido às condições de escravidão às quais estas pessoas foram submetidas, toda a sua rica tradição teve uma continuidade fragmentada no Brasil. No que diz respeito à religião, a continuidade se deu também com adaptações, perdas e influências de outras tradições religiosas como o Cristianismo, o Espiritismo e religiões de povos indígenas. As religiões que se formaram a partir destas bases são chamadas justamente de religiões afro-brasileiras. Trata-se de muitos grupos religiosos, entre eles a Jurema, o Encantamento, o Batuque, o Xangô… As religiões de matriz afro mais conhecidas e com o maior número de membros são, entretanto a Umbanda e o Candomblé. O Candomblé, também chamado de a religião dos Orixás, é a mais antiga dentre as religiões afro-brasileiras que se estruturaram e permanecem até hoje. Sua origem africana pode ser localizada no chamado Golfo da Guiné, nos atuais países do Togo, Benin e especialmente da Nigéria. Desta região foram trazidos ao Brasil principalmente no final do século XVIII e na primeira metade do século XIX milhares de pessoas do povo ioruba. Uma parte significativa destes escravos foi trazida para a cidade de Salvador, Bahia. Disto resulta que a maior concentração dos iorubanos no Brasil se deu nesta cidade. Em Salvador e entorno a tradição iorubana pode ter continuidade. E é justamente em Salvador que irá se organizar a religião do Candomblé. As mais antigas comunidades de Candomblé que permanecem até hoje são provavelmente do início do século XIX em Salvador. A partir desta cidade, o Candomblé vai mais tarde se expandir – seguindo especialmente o fluxo migratório de nordestinos – para o Sudeste do país, primeiramente para o Rio de Janeiro e entorno e depois para São Paulo. Hoje a religião do Candomblé se encontra presente praticamente em todo o país. Sua tradição religiosa se mantém e expande seguindo a tradição oral.
Volney J. Berkenbrock, O mundo religioso (Editora Vozes)